sábado, 23 de abril de 2011

Sonhando de olhos abertos

E aqui estou eu lá novamente, aqui o material do corpo preso à cadeira, preso ao momento, ao tempo presente que prende. Lá longe, antes do hoje e depois do amanhã, lá aonde o tempo e o peso não chegam, onde a distancia é desprezada, é lá mesmo que me encontro. Na verdade é lá que me perco, é lá que me vivo sem viver no presente. É lá que sinto enquanto parada apenas finjo, fantasio, imagino.
Mente distante, em lugar que não existe e não se pode alcançar, pois não se alcança o que não existe e não existe o que não pode ser alcançado, deste modo, o lugar onde me encontro (não eu, mas o pensamento), esse lugar não existe. Existe em mente, em ilusão de delírio, existe na inexistência, perfeição imperfeita de situações mais ou menos vividas, mais ou menos lembradas, mais ou menos inventadas...
É lá estou eu, posso ver-me (ou rever-me), nunca sozinha, nunca distante, enquanto aqui a matéria sozinha e distante imagina sua própria felicidade. E quebrando qualquer barreira de tempo, desprezando qualquer distancia, volto. Revejo as cenas, os rostos, as falas que já decorei como parte do script perfeito de um tempo que não veio (ou que se foi).
Nostalgia de um futuro que vem e vai, esperança de um passado que já viveu, um punhado de cartas imaginarias escritas, outros tantos versos em minha mente nunca ditos declamados, palavras nunca trocadas sendo ouvidas novamente num momento inalcançável (e, portanto, inexistente).
E o pensamento me trai, chamando a lembrança a cada instante, a qualquer vestígio de algo que possa despertar a memória, viajo novamente, volto e vou (vou e volto), a infinidade de possibilidades da mente me leva a infinidade de lugares, cada vez mais finitos pela falta de imaginação de quando se cai na rotina, mas mais finito ainda é a companhia, não por falta de imaginação, mas por excesso dela ao imaginar sempre aquela mesma pessoa que a memória tanto preza, tanto procura em todo o canto, em todo verso, fazendo com que de qualquer lugar surja a lembrança de uma situação existente até que se percam as linhas lógicas de raciocínio e da linha real do tempo, fazendo com que tudo que é real se vai, restando apenas corpo sorridente lembrando o que não existe, mas esperando que algum dia possa alcançá-lo, tornando-o existente.
De relance volto ao presente, volto ao agora, mas é só para sentir frio, apenas um breve lapso de realidade para depois voltar ao mundo inventado, que só pára quando a realidade supera minha expectativa, quando não há mais porque imaginar você por perto, pois já estamos perto. Mas relembro, não é agora que meu devaneio morrerá, continuo sozinha e distante, como no principio, continuo também com os mesmos pensamentos, continuo apenas, burlando a realidade, esperando o inicio.

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