sábado, 12 de março de 2011

Obsessão compulsiva

Há pessoas que se apegam demais a coisas desnecessárias, ficando presas a elas. Pessoas cujas coisas sem a menor importância se tornam indispensáveis, desde revistas velhas que nunca mais serão lidas, roupas que muitas vezes nem servem mais, objetos sem a mínima utilidade que ficam “presos” a elas.
Minha obsessão não é superficial, não é nada que eu possa ver, nada que eu possa simplesmente jogar fora, são lembranças. Elas se escondem em minha mente, se tornando parte dela, se aderem ao meu cérebro e fazem com que a simples idéia do que é útil ou inútil não passe de uma duvida remota.
E dentro deste caos mental, nem mesmo a realidade fica impune, tudo é questionável, tudo pode não ter passado de um devaneio que brinca com minha mente, me fazendo acreditar que foi verdade.
Paro em frente ao espelho, vejo muito mais que eu mesma, olho para dentro, dentro de meus olhos, do olhar que me fita de dentro do espelho, olhar que nem mesmo meu parece ser. Continuo a olhar o que penso ser eu mesma, me perguntando o que me resta fazer, ponho a mão em frente ao rosto do espelho, que faz o mesmo, parecendo que estamos tocando as mãos um do outro.
Parada em frente ao espelho, recusando a imagem que me reflete, penso no que posso realmente ser. Todo o ser humano, por natureza, enche a boca para falar dos outros, mas o que falar de si mesmo? Ecoando em meus tímpanos estão as perguntas já feitas, vibrando em minhas cordas vocais estão todas as respostas possíveis enquanto minha mente elétrica e inquieta procura a resposta certa, enquanto aquilo que as pessoas chamam de coração sabe que não existe "resposta certa".
Mas minha mente atônita continua a buscar a resposta, continua a mentir para si mesma que a vida tem uma solução correta, como se tudo fosse se resolver na simples decisão da coisa certa. Iludo-me pensando que haverá saída, me recusando a pensar que qualquer resposta pode me fazer sofrer, inclusive aquela que meu cérebro chama de certa.
A pessoa do espelho continua a encostar em minha mão, cada qual em sua realidade, ambas mudas e cheias de perguntas (ou seriam respostas?). Tirando a mão que pus sobre o meu rosto que pertence ao reflexo, arrisco-me a mais uma olhada para o outro lado, aquele ser humano antes desconhecido parece agora ser um pouco eu mesma, volto a reconhecer aqueles olhos agitados, aquelas pupilas dilatadas. Pouco a pouco eu e o espelho voltamos a ser velhos confidentes, as únicas testemunhas que realmente sabem o que se passa em uma vida.
Olho para dentro de mim mesma e percebo que todas aquelas lembranças aparentemente não se encontram mais lá. Eu sei que na verdade continuam vivas, continuam presentes, mas consegui por hora doma-las e prende-las em jaulas que sei que não vai agüentar por muito tempo, consigo prender lembranças, o problema é que não consigo jogá-las fora, nem mesmo perde-las em algum beco qualquer. Elas sempre estarão lá, muitas vezes me levando de volta a momentos que nunca vivi, que não passaram de devaneios muito bem pensados em minha mente, onde a realidade explode em frente aos meus olhos monstando apenas lugares onde o sol ilumina dias perfeitos e o vento tocando em meu rosto é alguém que eu amo, onde nem mesmo a chuvas e as tempestades são momentos sós, são apenas outro cenário, são apenas outro devaneio.
E, pela ultima vez, olho para o espelho, olho para o reflexo, que desta vez encontra-se sorrindo, percebo a mim mesma num sorriso e percebo que meu reflexo mudo será sempre aquele que saberá todos os meus segredos, o meu reflexo que talvez não seja nada mais do que eu mesma sempre me pareceu saber muito mais do que eu mesma jamais saberei, e percebo que ele esteve sempre ao meu lado, sempre dividindo as mesmas emoções que eu mesma sentia, chorando quando eu chorava e rindo quando eu ria, mesmo que as pessoas digam que não há mais nada que se possa esperar da sua figura refletida, algo faz com que eu veja que não é tanto no reflexo que confio, mas sim naquilo que esta do outro lado, não é como uma das viagens de Alice ao outro lado do espelho, é perceber que, no lado da realidade, devo confiar mais em mim mesma, tanto eu quanto meu reflexo rimos, voltei a confiar naquela figura, voltei a confiar em mim mesma.

2 comentários:

  1. laura sabes o que te fazia falta a ti e a mim? ferias bem longe de tudo e todos ....fazia-nos milagres

    ResponderExcluir
  2. concordoo! Bem longe da civilização..
    obrigado ^^

    ResponderExcluir